Em 1974, a família foi para Goiânia, sempre em busca do sonho de seu Chico, o de transformar seus filhos numa dupla. Lá, Welington, irmão nove anos mais novo que Zezé, adquiriu paralisia infantil. "Partimos de ônibus, levando os filhos e a graça de Deus...", conta dona Helena. Em Goiânia, os Camargo passaram a morar num barraco de dois cômodos. O telhado era remendado com papelão e latas. Seu Francisco arrumou emprego como servente de obra. Dona Helena trabalhava como lavadeira. A dupla Camargo e Camarguinho, que tocava canções de Tonico e Tinoco e de outras duplas da época, vez ou outra ganhava a estrada para se apresentar no interior do país. Numa dessas viagens, quando os garotos tinham 12 e 11 anos, um acidente de Ford Maverick tirou a vida de Emival. Os filhos de seu Francisco voltavam de uma apresentação em Imperatriz, no Maranhão, numa espécie de lotação. Zezé teve apenas um ferimento próximo ao olho. "Emival não voltou para casa. Éramos os irmãos mais ligados. Fiquei traumatizado...", revela Zezé. A primeira vez que ele voltou para Imperatriz, alguns anos atrás, teve uma crise de choro em pleno aeroporto.
Mesmo com a falta do irmão, Zezé não desistiu da música. Com 13 anos já trabalhava como office-boy. Na dupla Neilton e Mirosmar, Neilton fazia a segunda voz e tocava violão. Zezé di Camargo era a primeira voz e o seu instrumento era o acordeão. A diferença de idade entre os dois era de 13 anos. Aos 15 anos era o Zé Neto do trio Os Caçulas do Brasil, com o qual chegou a gravar um disco. Em 1979 formou parceria com um amigo de Goiânia, dez anos mais velho e remanescente do trio. A carreira da dupla Zazá e Zezé, que teve boa expressão em Goiás e no Mato Grosso, deu origem a três LPs lançados entre 1980 e 1984. Mas não vingou porque Zazá tinha planos regionais. Zezé queria ganhar o país.
Em 1987, Zezé resolveu partir para São Paulo e tentar carreira solo. Gravou dois discos pelo selo Três M, já extinto (hoje esses trabalhos pertencem à Warner). Por essa época, algumas de suas composições já eram sucesso nas vozes de duplas consagradas, como Chitãozinho e Xororó. "Apresentei 'Solidão' ao Leonardo, mas achava que ela deveria ser gravada pelo Amado Batista. Mas o Leo gostava muito da canção. Fez um playback sem me avisar. Só contou quando já tinha decidido gravá-la", diverte-se Zezé. A música acabou estourando nas vozes de Leandro e Leonardo.
Década de 1990: Início do sucesso com Luciano[editar | editar código-fonte]
Apesar das composições bem-sucedidas, o filho mais velho de seu Francisco queria mesmo era emplacar como cantor. Welson David, irmão dez anos mais moço, imaginava que Zezé estivesse fazendo sucesso em São Paulo. Vi você no programa do Bolinha, ligava, todo orgulhoso. Não desconfiava que os tempos eram de vacas magras e quem segurava as pontas - e as contas - na casa de Zezé era, muitas vezes, Zilú, sua mulher. Welson trabalhava como office-boy em Goiânia, e contava em casa que cantava no clube da Caixego (Caixa Econômica de Goiás, onde era funcionário). No Natal de 1989, o filho mais velho foi visitar a família em Goiânia. Welson aproveitou para mostrar o que sabia, mesmo sem nunca ter cantado profissionalmente. "Vi que ele tinha tino para a coisa", lembra Zezé. "Comentei com a Zilú e ela deu a maior força, afinal era meu irmão, novinho, boa pinta e sem vícios". Zezé precisava mesmo encontrar um parceiro. Ele estudava propostas de algumas gravadoras, que só fechariam contrato se o cantor formasse novamente uma dupla. Combinaram de se encontrar em São Paulo depois de um mês. Deram início aos ensaios. Zezé às vezes se irritava com o irmão mais novo. Ele começava bem, mas passava para a minha voz. Por pouco Zezé não manda o irmão de volta para a casa dos pais, depois de Welson ter se metido numa briga. "Quem não deixou foi a Zilú", recorda. Na hora de escolher o nome para a dupla, os dois passaram a ver qual soaria melhor ao lado de Zezé Di Camargo. "Que tal Luciano?", arriscou Zezé. "Por que não Luciano?", sugeriu Welson. Feito. Fecharam contrato com a gravadora Copacabana. Com o repertório definido e faltando um dia para a dupla entrar em estúdio, Zezé teve um estalo e compôs, de sopetão, "É o Amor". Insistiu com os executivos da gravadora e acabou conseguindo incluir a faixa no LP. Antes mesmo de o disco sair, Zezé Di Camargo deixa uma fita com "É o Amor" na rádio Terra FM de Goiânia. Seu Francisco, sempre incentivador, comprava 500 fichas telefônicas por semana e as espalhava pela vizinhança. Ele dizia para que ligassem para a rádio e pedissem a música que seus meninos haviam acabado de gravar. Funcionou: em 15 dias "É o Amor" era a mais pedida da cidade.
Antes de emplacar um hit atrás do outro cantando ao lado do irmão Luciano, Zezé Di Camargo já conhecia o gostinho de ver músicas suas nas paradas de sucesso de todo o país. Ele compunha principalmente para amigos famosos como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo. Ele assina, em média, seis faixas de cada CD da dupla. Suas letras, com raríssimas exceções, falam do amor e suas dores, tema que ele considera universal, com o qual todos se identificam. Foi 19 de abril de 1991 que Zezé Di Camargo e Luciano lançaram seu 1º álbum de carreira. Em dois meses "É o Amor" alçava seus intérpretes ao primeiro lugar no hit parade. Em seis meses o CD de estréia dos cantores ganhava disco de platina duplo por 750 mil cópias. Em pouco mais de um ano atingia a casa de 1 milhão de cópias. Este LP marcou época por seu repertório impregnado de boleros e baladas românticas. Dos boleros desse disco, destacam-se principalmente "Deus" (Zezé di Camargo - José Fernandes), "Pouco a Pouco" (Jorge Gambier) e "Eu Te Amo" (Roberto Carlos), versão do sucesso dos Beatles, "And I Love Her". Entre as baladas românticas desse disco, destaca-se principalmente "Quem Sou Eu Sem Ela" (Zezé di Camargo), que conquistou as paradas de sucesso naquele ano ao lado de "É o Amor", a principal balada romântica do disco.
Em resposta aos críticos que acham que Zezé deveria compor músicas sertanejas de raiz, ele costuma dizer: A miscigenação é nossa característica mais forte. Não existe raça pura no Brasil e, conseqüentemente, não existe ritmo puro. Exigem que os sertanejos façam música de raiz. Chico Science misturou rock com maracatu e a mídia aplaudiu, por quê nós teríamos de cantar um ritmo puro? Mas nunca negou suas origens. Tenho orgulho do gosto de terra no céu da boca, declara.
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